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Itaperunense faz sucesso com seu dicionário de expressões

Nivaldo Lariú, o itaperunense que faz sucesso com um dicionário de baianês
Nivaldo Lariú, o itaperunense que faz sucesso com um dicionário de baianês

No dicionário Houaiss de língua portuguesa, uma das acepções atribuídas ao baiano – “fora do Estado da Bahia”, como deixa claro o autor – é de indivíduo tolo, ignorante ou fanfarrão.

No dicionário de Nivaldo Lariú, baiano tem basicamente dois significados: 1 – indivíduo criativo e bem-humorado.  2 – Adjetivo que ele gostaria de estampar na carteira de identidade.

O itaperunense autor do Dicionário de Baianês é uma espécie de antena dos coloquialismos nascidos nas ruas de Salvador. As 1,3 mil expressões e gírias impressas no livro independente já venderam mais de 140 mil exemplares por livrarias e aeroportos afora. Da primeira edição, em 1991, para cá, são 18 anos de “ingrácia”. De atualização que rende, e demora a acabar.

Recém-formado e natural de Itaperuna, Lariú foi parar na Bahia em 1972, ao saber de uma vaga para engenheiros na Telebahia, aos 23 anos. Leitor de Capitães de Areia, guardava um esboço imaginário do que seria as cidades Alta e Baixa de Jorge Amado. “Esse conceito era difícil de entender, assim como as expressões que ele usava”.

Em solo baiano, as tais expressões deram-lhe logo o ar da graça. “Eu encontrava os amigos baianos que me chamavam pra bater um baba. No meio do baba, um saía porque tava boiado, depois ia tomar uma”, lembra, às risadas. Daí em diante, criou o mau hábito de ouvir conversa dos outros no ônibus. De botuca, como se diz no linguajar local.

“Foram quatro ou cinco anos de pesquisa prazerosa, de ficar ligado na rua, ouvindo como as pessoas falavam e anotando no canhoto do cheque”, conta Lariú, que vive colecionando novos verbetes para a próxima edição – o livro está na terceira. “Não coloco coisas da novela ou de uma música. Eu aguardo (a gíria) assentar, sedimentar”.

“Por exemplo: ‘Toda boa’ morreu, ninguém mais viu, já ‘piriguete’ ficou”. Apesar de criterioso, o escritor – tem outros dois livros publicados, Mancha de Dendê e Confissões de um Pai Adolescente – garante não censurar os verbetes indesejados. Odeia os escatológicos, e mesmo assim os inclui na sua enciclopédia.

Dicionário de Lariú é campeão em venda
Dicionário de Lariú é campeão em venda

“Acho bufa uma palavra horrível, mas boto. E tem coisas que não são politicamente corretas, associam-se ao racismo”. Dizem que, quando se usa um perfume vagabundo, o que era pra cheirar bem vira um “espanta-nigrinha”.  Já quando alguém entra na baixaria, é melhor parar com a “nigrinhagem”.

Jorge Amado – Da cobertura de seu apartamento, na Rua Banco dos Ingleses, Lariú observa o retrato dos três filhos – todos baianos – numa das estantes, fruto do primeiro casamento com uma oriental. Há coisas com as quais nunca se acostumou: ‘painho’ e ‘mainha’ até hoje me entram arranhando”, sorri. Mesmo eleito Cidadão Baiano em 1996, o berço fala mais alto.

Casado com uma baiana, o engenheiro aposentado dedica-se a observar. Do apartamento, vê os moleques nadando na Praia da Gamboa de Baixo, sob um mar turquesa cristalino. Lembra-se mais uma vez de Jorge Amado. Certa vez, deu de presente um livro a Zélia Gattai, que mostrou a Jorge. De pronto, o escritor lhe telefonou elogiando o dicionário.

Lariú derrama-se quando lembra daquelas palavras: “Ele nunca soube, mas eu estou aqui por causa dele. Se esse dicionário é meu filho, é neto de Jorge”. Também recorda da generosidade do historiador Cid Teixeira, que lhe explicou cada uma das expressões. “Ele não queria que eu colocasse Q-boa, mas eu falei: Cid, o baiano chama qualquer água sanitária de Q-boa”, diverte-se Lariú.

Sessentão, admite não ter aquele vigor de outrora. Lariú perdeu a sensibilidade estrangeira de captar palavras esquisitas dentro do ônibus. “Estou graças a Deus perdendo um pouco o ouvido. Eu prefiro a sensação de ser baiano”, brinca, enquanto deixa ver os elogios no verso do livro, de Cid Teixeira, Afrânio Coutinho e Antônio Houaiss.

Comentário do autor do dicionário de português, sobre o Dicionário de Baianês: “Já o havia degustado (…) pelo bom humor com que foi feito, pelas saborosas ilustrações e pela engraçadíssima ‘historinha’ final. No conjunto, acertou 100%”.






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