Escolas do Noroeste Fluminense apostam em novas formas de ensino

Os limites da sala de aula extrapolaram as quatro paredes e invadiram pátios, quadras de esportes e tomaram conta da comunidade e das casas dos alunos. Com a receita simples de aproximar os pais da formação dos filhos e tornar o aprendizado mais interessante com passeios, teatro e feiras, os diretores dos colégios estaduais Waldemiro Pitta e Oscar Batista, em Cambuci, no Noroeste Fluminense, transformaram o ensino em suas escolas e reduziram para zero a evasão escolar.
A comprovação do sucesso está nos resultados do último Ideb: o Waldemiro Pitta é a melhor escola do Estado e a segunda melhor do Brasil, enquanto o Oscar Batista é a segunda melhor nota do Estado e a terceira do Brasil. Mas para atingir os excelentes resultados, os gestores encontraram muitos desafios. Um dos maiores era o abandono dos alunos, que tem que enfrentar longos deslocamentos para assistir às aulas. Em colégios de zonas rurais, além das longas distâncias, muitos estudantes precisam trabalhar nas lavouras. Para o diretor da Oscar Batista, Obede de Souza Peres, de 48 anos, a solução é bater de porta em porta.
– Nossos alunos sumiam da escola e não íamos atrás. Então, nós formamos um grupo de visitadores, com professores, pais, alunos, e passamos a ir na casa de quem está faltando muito. Com isso, passamos a compreender a realidade da família e ver a estrutura que o aluno tem, mostrando a necessidade das crianças estarem na escola. Para quem fica fora na lavoura por um tempo, montamos um plano de estudo para recuperar esse aluno – explicou Obede, que destacou que o transporte escolar passa de porta em porta para pegar e deixar os estudantes.
As mudanças começaram depois do resultado do Ideb de 2007. Abaixo da meta da Secretaria de Educação, a escola começou a se mobilizar para melhorar o desempenho. Aproximar os pais da rotina dos filhos na escola, estimular a leitura, tornar o grêmio estudantil atuante e motivar os alunos com festas, feiras temáticas e passeios para ver na prática o que aprendem na sala de aula foram algumas das medidas adotadas. No 3º ano do ensino médio Normal, Walter Curvelo, de 17 anos, é o exemplo do aluno atuante.
– Faço questão de participar de todas as atividades fora da sala de aula, que acontecem sempre. Acho que torna o ensino mais interessante. Na festa do folclore, por exemplo, fiquei responsável pela tenda temática do Sul do Brasil. Nossa ideia é explicar as curiosidades – contou.
Preocupações além do ensino
O bom desempenho de um aluno não depende apenas da atenção às aulas e estudar em casa. Foi isso que a diretora do Colégio Estadual Waldemiro Pitta, Neliany de Campos Manhães Marinho, de 49 anos, percebeu. De manhã, muitos alunos sentiam dor de cabeça, enjôos e ficavam dispersos. As conversas mostraram que eles acordavam muito cedo e não tomavam café da manhã. A solução? Montar uma padaria dentro da escola.
– Procurei a Secretaria de Educação e fiz o projeto. Hoje, os alunos chegam e tem o pão quentinho para eles comerem. Às vezes fazemos um lanche mais especial. Há uma preocupação porque eles saem muito cedo de casa e por ser uma área rural não temos tanto comércio perto – disse.
Neliany também é adepta dos eventos fora da sala de aula para manter os alunos sempre interessados. De acordo com ela, o calendário escolar é todo baseado nas datas comemorativas. Os alunos representam, e recitam poesias, por exemplo, e as famílias são convidadas para
A escola é tão atuante que não são apenas os alunos em idade escolar que são atraídos para as carteiras. Aos 40 anos, Cirlene Clarindo Mulina decidiu terminar os estudos e correr atrás do sonho de se tornar professora como os dois filhos. Agora, aos 49, ela está a poucos meses de concluir o curso Normal.
– Eu morava na roça e ia para a escola a cavalo. Como era longe, larguei. Mas sempre pensava em voltar a estudar. Aqui, meu filho me deu aula e quero ser professora também. É um compromisso sério. Tenho um longo caminho, mas quem sabe não chego lá – planeja.
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