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Cantora Angela Maria, morre em São Paulo aos 89 anos

Ela não resistiu a uma infecção generalizada e estava internada no Hospital Sancta Maggiore.

Morreu aos 89 anos no fim da noite deste sábado (29), a cantora Angela Maria, uma das rainhas do rádio. Ela estava internada no Hospital Sancta Maggiore, em São Paulo há 34 dias e não resistiu a uma infecção generalizada. A cantora será velada e sepultada neste domingo (30) no Cemitério Congonhas, na zona sul da capital paulista.

Abelim Maria da Cunha nasceu em Conceição de Macabu, na época distrito de Macaé, no Norte Fluminense em 13 de maio de 1929 foi uma expoente da Era do Rádio e considerada dona de uma das melhores vozes da MPB.

Intérprete de canções como Babalu (Margarita Lecuona), Gente Humilde (Garoto/Chico Buarque/Vinicius de Moraes), Cinderela (Adelino Moreira) e Orgulho (Waldir Rocha/Nelson Wederkind), serviu como fonte de inspiração para artistas como Elis Regina, Djavan, Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Cesária Évora e Gal Costa, além de ter sido, comprovadamente pelo Ibope, por um longo período, a cantora mais popular do Brasil e conquistado a admiração de personalidades como Édith Piaf, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Amália Rodrigues e Louis Armstrong.

De família muito humilde, sua mãe era dona-de-casa e seu pai pastor de igreja evangélica. Por conta disso, desde criança cantava no coral de uma Igreja Batista próxima a sua casa e com isso foi aprendendo a amar a música e o universo das melodias. Durante sua infância e adolescência, devido a dificuldades financeiras, morou com a família nas cidades de Niterói, São Gonçalo e São João de Meriti, em busca de uma vida melhor em cidades com mais recursos. Durante sua juventude trabalhou em uma fábrica de lâmpadas e foi operária tecelã em uma indústria de tecidos, mas sempre quis ser cantora. Sonhava com a vida nas rádios e com o sucesso,mas seu pai era contra por ser muito religioso, querendo que a filha se convertesse na igreja evangélica e casasse cedo. Ângela não tinha o desejo de viver assim, e foi atrás do seu grande sonho, que era cantar.

 
 


Angela sempre contou em entrevistas ter sofrido na vida pessoal. Nunca pode ter filhos, por problemas em seu útero, que ela descobriu ter ainda na adolescência. Foi constantemente alvo da mídia, que sempre tocava no assunto ou inventava boatos a deixando magoada,pois ela sempre quis ser mãe. Apesar de ter feito inúmeros tratamentos, nunca conseguiu engravidar. A cantora foi casada com seis maridos e teve muitos namorados, e revela que sempre sofreu na mão de todos eles com humilhações e até agressões físicas, contando que isso interferiu na sua carreira. A cantora revela que já tentou o suicídio. Conta que quase perdeu tudo, já que seu patrimônio era administrado por seus assessores, que mesmo ela dando o dinheiro a eles, não pagavam suas contas e a roubavam constantemente. Em 1967, desesperada com sua vida, fugiu para São Paulo, e passou a ser cada vez mais roubada, não dava sorte e sempre encontrava empresários golpistas e namorados ladrões, porém deu a volta por cima anos depois, apesar de ter ficado muito tempo vivendo em grande pobreza, ganhando muito pouco, cantando em boates e tendo que complementar a renda fazendo faxina para sobreviver. Angela Maria revelou que seu melhor amigo sempre foi Cauby Peixoto e que tinha uma grande admiração por Dalva de Oliveira.

Em 1979, com 51 anos e vivendo sozinha, conheceu um homem que mudaria sua vida: Um rapaz de dezoito anos que mexeu com seu coração. Ele era noivo de uma moça da faixa etária dele, porém o garoto, chamado Daniel D’Angelo, gostou de Angela, abandonou a noiva e os dois passaram a ter um envolvimento amoroso intenso. Daniel a ajudou quando sofreu um novo golpe, lhe arranjando trabalhos. Eles foram morar juntos com poucos meses de namoro, até que em 13 de maio de 2012, no dia do seu aniversário de 83 anos (e ele com 51) casaram-se oficialmente, no civil e na igreja. Ela foi pedida em casamento dias antes, e aceitou. Embora tenha sido pedida outras vezes, nunca quis se casar oficialmente, até aquele momento. A celebração do casamento foi realizada com uma grande festa para os familiares e amigos. Angela dizia que ele havia sido o único homem que lhe fez verdadeiramente feliz. A cantora era casada com Daniel desde 1979 e adotaram quatro filhos: Ângela Cristina, Lis Ângela, Rosângela e Alexandre.

Em 1947, aos dezenove anos, trabalhava de dia, e à noite, tentando por todos os meios conseguir vaga em algum programa de música, indo de rádio em rádio fazer inscrições para sorteios, até que conseguiu ser premiada e se apresentou aos jurados em uma rádio, e passou no teste. Com isso, começou a apresentar-se como cantora no Pescando Estrelas, um programa de calouros. Adotou o nome de Angela Maria para não ser identificada pela família, que se soubesse, não a deixaria mais sair de casa. Sua interpretação era considerada belíssima, sempre tirava nota máxima e ganhava todos os concursos. Todos a queriam para cantora e assim, foi cantar no famoso Dancing Avenida e depois na rádio Mayrink Veiga. Em 1951, com a família já sabendo de tudo e mesmo a contragosto, após muitas brigas, acabaram aceitando a vontade da filha, Angela gravou o primeiro disco. Veio assim os sucessos que a consagraram.

Com grande sucesso no Brasil, passou a viajar o mundo com canções belíssimas em sua voz considerada muito harmônica. Além de cantora, fez cursos de teatro, e atuou em cinema, no longa-metragem Portugal, Minha Saudade em 1973.

Angela Maria consagrou-se como uma das grandes intérpretes do gênero samba-canção (surgido na década de 1930), ao lado de Maysa, Nora Ney e Dolores Duran.

Gravou dezenas de sucessos como Não Tenho Você, Babalu, Cinderela, Moça Bonita, Vá, mas Volte, Garota Solitária, Falhaste coração, Canto paraguaio, A noite e a despedida, Gente humilde, Lábios de mel, e outros.

Em 1994 foi Homenageada pela escola de samba paulistana Rosas de Ouro, que com o enredo Sapoti, foi consagrada campeã do carnaval de São Paulo naquele ano.

Em 1996, foi contratada pela gravadora Sony Music e lançou o CD Amigos, com a participação de vários artistas como Roberto Carlos, Gal Costa, Caetano Veloso, Alcione, Fafá de Belém entre outros. O trabalho foi um sucesso, celebrado num espetáculo no Metropolitan, atual Claro Hall, no Rio de Janeiro, e um especial na Rede Globo. O disco vendeu mais de quinhentas mil cópias.

Foi uma fase muito feliz da carreira da cantora que, no ano seguinte, apresentou o álbum Pela Saudade que Me Invade, com sucessos de Dalva de Oliveira, e um ano depois gravou, com Agnaldo Timóteo, o CD Só Sucessos, também na lista dos cem álbuns nacionais mais vendidos. Após a saída da Sony, Angela voltou a gravar em 2003, desta vez pela Lua Discos, o Disco de Ouro, com um viés eclético, abrangendo compositores que vão de Djavan a Dolores Duran.

No ano de 1994, o cantor Ney Matogrosso gravou o disco Estava escrito, em homenagem a Angela Maria. O álbum contém canções do repertório da cantora e que ficaram consagradas em sua voz.

Em 2011, após 45 anos do surgimento da série Depoimentos para a Posteridade do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, foi convidada em 23 de agosto para deixar registrada sua história. Na entrevista contou passagens importantes de sua carreira artística, afirmando ter gravado 114 discos e vendido cerca de 60 milhões de exemplares.

Nas eleições municipais de 2012, candidatou-se a vereadora da cidade de São Paulo pelo PTB, porém não se elegeu.

Em 2015, é lançada a sua biografia escrita pelo jornalista Rodrigo Faour, que contou com depoimentos preciosos da cantora.






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