Mulher agredida por policiais denuncia tortura e PM confessa que houve um excesso
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Uma imagem no mínimo revoltante e que denuncia um despreparo e um abuso de um policial. É o que foi flagrado em uma das manifestações no Rio de Janeiro. Depois da imagem de um policial jogando spray de pimenta no rosto de uma mulher, durante protesto no Centro da cidade ter rodado o mundo, a manifestante que chegou a ser presa na última segunda-feira (17/06), postou um texto de desabafo no Facebook e relações públicas da PM confessa que houve abuso.
De acordo com a mensagem divulgada esta tarde (19), além do spray de pimenta no rosto, ela teria sido apedrejada por policiais e atingida por uma bala, que ela não sabe identificar se foi de borracha ou um tiro de raspão.
Liv Oliveira, como se identifica na rede social, é aluna do curso de artes na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e se diz uma militante das causas sociais desde a adolescência. Ela conta que depois da passeata na Praça XV foi presa por formação de quadrilha e que teve que pagar fiança de R$ 2 mil para ser liberada. Liv afirma que protestava pacificamente, mas diz que não pretende voltar às próximas passeatas por orientação do seu advogado. Segundo ela, devido ao seu histórico psiquiátrico poderia parar num manicômio judicial. Nessa manhã (19), a mulher teria feito exame de corpo de delito no IML (Instituto Médico Legal).
De acordo com o fotógrafo Stefano Figalo que registrou o momento em que Liv Oliveira é levada pelos policiais (foto acima), o ataque aconteceu no horário que o cerco estava fechado só para imprensa. “Depois da liberação do pessoal da Alerj pela Tropa de Choque, ela estava por ali. Ela estava lá meio abatida, começou a reclamar que os policiais eram covardes, que eles soltavam spray de pimenta em mulher grávida, dando entender que ela estava grávida. Ela continuou a agredir verbalmente a tropa de choque. Um dos policiais falou que se ela realmente estava grávida, não deveria estar ali. Ela revidou e foi presa por desacato à autoridade. Parecia brasileira. Deu para entender que ela falou bem português. O ataque era a justificativa que ela teve para cometer o desacato”, explicou o fotógrafo.
O coronel Frederico Caldas, relações públicas da Polícia Militar do Rio de Janeiro comentou, em entrevista ao Bom Dia Rio desta quarta-feira (19), sobre a ação de um policial da Tropa de Choque que atacou Liv Oliveira enquanto ela circulava pela Praça XV na noite de segunda-feira. Segundo ele, houve excesso por parte do policial.

“A gente percebe que há um excesso, principalmente, por se tratar de uma mulher sozinha e dois policiais. Não justifica absolutamente dois policiais terem esse tipo de comportamento. Agora a gente tem que analisar o contexto também. Não só em relação a esse fato em si, mas toda a mobilização dessas pessoas. Por parte de alguns manifestantes, há uma postura de absoluta hostilidade, muitos deles atacando aos policiais, é claro que nesse caso não, mas de um modo geral, o emprego da tropa da Polícia Militar tem sido em situações extremas”, explicou Caldas.
“Não estamos atuando em condições normais de um controle de distúrbio, mas sim em situações em que há um comportamento absolutamente agressivo por parte dos manifestantes e é por isso que a gente tem feito uma palestra com os policiais para que eles tenham mais equilíbrio e mais cuidado nessa atuação”, completou.
O coronel acrescentou também que as imagens serão analisadas.

“Naturalmente será feito todo o trabalho de identificação dessas imagens. Então o que quer que tenha que ser feito pela Polícia Militar, nós faremos de uma maneira muito isenta, muito responsável porque a gente sabe muito bem o papel que a polícia militar tem no sentido de conter mais não de agredir as pessoas”, concluiu o coronel Frederico Caldas.
Mensagem de Liv Oliveira no Facebook
“Fazia muito tempo que não me envolvia em protestos, me lembro que em minha adolescência o único movimento político que me pareceu coerente de todo era aquele que lutava pelo passe livre, que na época tinha risco de ser perdido. Um direito do estudante que deveria mesmo ser ampliado, estendido aos universitários. Na passeata antiga de que me lembro, entramos em confronto com a polícia, que começou …como sempre começa, a coibir violentamente os manifestantes. Quando se fala de violência há de se compreender o direito de resposta do que é vítima, como somos nós vítimas do estado, reféns de uma polícia corrupta e atroz. Passou por mim nesse tempo, enquanto eu corria de uma bomba de gás lacrimogêneo, e era uma menina de dezesseis anos, um homem que disse ao telefone pra alguém “ aqui no centro tem um monte de marginais vestidos de estudantes”.
Eu fiquei boquiaberta na época e ainda hoje fico quando alguém condena uma pessoa que luta pelos próprios direitos indo à uma passeata, protestando. Uso com frequência o argumento de que numa primavera árabe, como chamaram, a revolta da população é considerada válida, enquanto aqui a revolta é considerada crime, reagir ao estado, à polícia, é o mínimo que podemos e devemos, ainda que eles tenham táticas e nós não, devemos resistir, o mais pacificamente quanto o possível, mas promovendo transtornos sim, porque um protesto que não incomoda é um protesto sem voz.
E pra citar Hélio Oiticica, com seu “seja marginal, seja herói” devo dizer, que ser chamada de marginal não é hoje pra mim uma ofensa, e sim um elogio. Já que o refugo da sociedade, o que ela rejeita como rejeitou-me em algumas circunstâncias, talvez seja o que há de mais válido nela, o que há de combatente, de vivo, de possivelmente revolucionário. Talvez seja apenas um espelho do qual não se gosta, um espelho que retrata a verdadeira face, o que me lembra inevitavelmente Dorian Gray.
Quando se fala dos “poucos vândalos” para uma multidão de pacíficos, devemos pensar se não estamos fazendo uma revolução que a mídia acata facilmente. Já que a mídia frequentemente manipula nossa opinião, e nos sonega informações que tem, se isso não é perigoso, se isso não vai fazer com que coloquemos no poder um governante de direita. Ao invés de uma política minimamente válida, comprometida com respeito por nosso direitos, e não com um deputado como o Feliciano na comissão de direitos humanos, que é algo de uma ironia transcendental. Se não estamos fazendo uma revolução de que a mídia vai se utilizar negativamente. É aí que reside todo perigo. Acho por exemplo que se um deputado ganhasse como um professor a política não seria o que é, mas são eles quem votam os próprios salários, enquanto nós somos quem devia decidir isso.
Me filio mais a um pensamento de viés algo anarquista, algo comunista, porém não gosto de ismos e acabo por definir-me apartidária e independente. Tenho, como temos todos, uma cabeça própria, influenciável é verdade, mas no geral desvinculada de uma lógica de manada até quando me for possível evitar. e sei quanto de utópico e ideal há nisso. Por isso nenhum estado jamais me representará, a presidente Dilma não me representa mesmo que eu tenha votado nela por considerar que dentre as opções viáveis era a menos pior.
Aqui no Rio, o que tem sido feito é uma elitização progressiva da cidade, os moradores das favelas estão deixando de ser pobres e a elite está tomando o lugar, a cidade está mudando o caráter miscigenado que sempre teve e que garantia certa horizontalidade nos espaços comuns. O custo de vida está aumentando e o aumento da passagem é só a gota d’água de tudo isso, o que faltava para coroar um quadro mais que absurdo. Vive-se num estado de vigília constante, uma ratoeira da qual não conseguimos nos desvencilhar por mais que tentemos com afinco, porque há sempre uma e outra pedra no caminho, pra citar Drummont.
A polícia é violenta e cruel, aqui. O estado é violento e cruel, aqui. E o cidadão é que está a mercê dele, e não o contrário, mas somos muitos, ainda que nesse coro de tantas vozes se sobressaiam algumas poucas, e sempre tenhamos a impressão de que estamos sendo enganados, manipulados, e massacrados pela mídia, polícia, estado, e pela multidão que vai as ruas linchar, pois não há nada mais covarde que um linchamento, seja ele afetivo ou físico.
Na manifestação que fui nessa segunda-feira, foram presas pessoas que não tinham absolutamente nada de vândalos, uma menina foi presa por portar um objeto que ela encontrou na rua mas no momento do confronto foi fruto de um saque a uma loja de malas, pelo que entendi. Como podem fazer os governantes para tirar um e outro como exemplo pra massa e pra que pareça que não valha a pena resistir, e lutar pelos direitos que todos temos. Ela foi presa injustamente e injustamente condenada a ficar sem fiança, os outros foram liberados segundo fiança, a minha foi de dois mil reais, para responder em liberdade como quadrilha. Eram pessoas que nunca haviam se visto antes. Um estado em que aqueles que o combatem são passiveis de serem tidos como terroristas é ditatorial.
Não concordo com uma lógica nacionalista que se perpetua, acho que somos todos cidadãos do mundo antes de pertencermos a este ou àquele país. O que vi na passeata que fui, foi uma multidão de muitas vozes distintas, xingavam a todos os governantes. Mesmo a mim, que não governo nada, xingavam também, uma multidão pode ser positiva ou negativa, as vezes ambas as coisas, simultaneamente.
Compreendo uma vivacidade derivada da violência, uma violência que se desvele poeticamente, embora não apoie a depredação de prédios históricos ainda que segundo meu senso estético ( como artista plástica e poeta que sou ) eles fiquem mais interessantes assim. Acho que barricadas que atrapalhem o acesso da polícia aos manifestantes podem vir a funcionar muito bem. Embora também não tenha participado de nenhuma construção de barricadas no protesto, fui apenas vê-las.
Protestei pacificamente, mas não passivamente, sim como uma performance reativa, injustamente fui presa, e agora meu advogado me aconselha a não estar com os meus, na passeata, onde o efetivo de polícia aumentou muito. Meu rosto estampado nos jornais impede que eu saia ilesa, devido ao histórico psiquiátrico que tenho, possivelmente pararia em um manicômio judicial. Peço a todos que puderem ir, que vão, e combato daqui, com as armas que tiver ao alcance, o que for possível.
A multidão que estava na Rio Branco eram muitas vozes distintas, já a que foi à Alerj me deu a impressão de ser uma voz mais unívoca, embora saibamos que há sempre infiltrados. Por exemplo com uma bomba precisei de vinagre, me deram primeiro wisky, depois vinagre, e leite de magnésia. Em uma outra hora em que recebi spray de pimenta no rosto, logo após aquela foto, me deram tiner para passar no rosto, o que significa que é muito difícil nessas situações, saber quem é o inimigo. A polícia me tacou pedras e atirou o que não tenho certeza se foi uma bala de borracha ou um tiro de raspão, além do spray de pimenta. Então, sei que inimigos são muitos, mas eles são os piores em minha relação e minha performance no ato.
A polícia me agrediu como agride a todos os manifestantes, nesse tipo passeata, como sempre foi feito, hoje fui ao IML, fazer um exame de corpo delito para que eu possa me defender e que meu processo seja arquivado. Na delegacia uma espécie de tortura psicológica foi o que me aconteceu, pra sair de lá assinei papéis que não sei em exato o que foram, e agora espero para ver no que vai dar. Espero que isso se torne maior do que qualquer indivíduo, que seja a micro política invadindo a macro, agora que por bem, devo dizer o que penso.”
(*) Com informações do G1
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